quinta-feira, 5 de novembro de 2015

SPRINT trial: mudança de paradigmas?

 O controle pressórico adequado é fundamental para diminuir a incidência de doenças cardiovasculares (DCV). Contudo, ainda é fonte de alguma controvérsia o valor pressórico que deve ser tomado como 'ideal a ser alcançado'.

 Segundo recomendações do VIII JOINT Americano, publicado no final de 2013, níveis tensionais abaixo de  140 x 90 mmHg são satisfatórios na maior parte da população, e em  subgrupo de pacientes, como os idosos, podemos ser mais liberais com metas pressóricas < 150 x 90 mmHg. Essas recomendações podem ser conferidas aqui.


 Essas recomendações são seguidas por boa parte dos médicos que lidam com pacientes hipertensos, mas ainda há grupos que defendam que um controle mais agressivo teria beneficio para alguns pacientes. 

 Sendo assim, para alguns pesquisadores, ainda fica a dúvida se um controle mais 'rígido' de valores pressóricos não conseguiria diminuir a mortalidade desses pacientes.

 Para responder essa questão, o National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos encomendou um estudo, o SPRINT TRIAL, em que comparou o controle pressórico mais intensivo versus o controle habitual. 

 O estudo ainda não foi publicado em sua íntegra, no entanto, o NIH fez uma apresentação preliminar de dados do estudo após o término prematuro do mesmo devido o desfecho de benefício ter sido atingido. 

 Então, vamos aos dados preliminares.

 Desenho
Pacientes foram randomizados para o controle pressórico intensivo (PA sistólica < 120 mmHg) ou controle pressórico habitual (PAS < 140 mmHg).

·  Número total de participantes: 9,361
·  Duração do seguimento: 5 anos

Critérios de inclusão:

·  Idade  ≥ 50 anos
·  Hipertensão com PA sistólica  ≥ 130 mmHg

Pelo menos um fator de risco para doença cardíaca:

·   Presença clínica ou subclínica de doença cardiovascular, menos AVC
· Doença renal crônica, definida como a função glomerular estimada (eGFR) 
    20-59 ml/min/1.73 m2
·  Escore de risco de  Framingham  ≥ 15%
·  Idade  >75 anos

Critério de exclusão:

· A indicação por algum anti-hipertensivo  e o paciente não está tomando e não foi documentado que a paciente  era intolerante a esta classe de droga.
·  Hipertensão secundária conhecida
·  PAS< 110 mmHg após 1 minuto em pé
·  Proteinúria
·  Circunferência do braço muito curta ou grossa para permitir acurada medida da PA com os aparelhos avaliados.
·  Diabetes mellitus
·  História de AVC
·  Doença renal policística
·  Glomerulonefrite tratada ou com indicação de ser tratada com imunossupressor
·  TFG <20 ml/min/1.73 m2 ou estágio final de doença renal
·  Evento Cardiovascular ou hospitalização por angina instável nos últimos 3 meses.
·  Insuficiência cardíaca sintomática nos últimos 6 meses ou FE< 35%
·  Condição médica que limite a sobrevida por menos que 3 anos ou doença maligna que não o Câncer de pele nos últimos 2 anos
·  Algum órgão trasplantado

PRINCIPAIS ACHADOS

 O desfecho primário composto por infarto agudo do miocárdio, síndrome coronariana aguda, AVC, Insuficiência Cardíaca Congestiva ou morte cardiovascular, foi significativamente menor, aproximadamente 33%, no braço do grupo com  controle intensivo da PA comparado com o manejo de rotina. A mortalidade foi reduzida em aproximadamente 25%. O trial foi terminado assim que a evidência de beneficio foi atingida. O texto final está sendo aguardado.

COMENTÁRIO

 Podemos observar que nesse estudo pacientes idosos (>75 anos), pacientes com alto risco cardiovascular estimado e pacientes já com lesão de órgão alvo, como doença renal crônica em estado não terminal, foram inclusos dando a entender que nesse grupo de pacientes  o controle rigoroso é melhor. Vale lembrar que pacientes com diabetes e AVC prévio não foram incluídos no estudo e, assim, não podemos extrapolar tal meta para esses pacientes.

 Será que podemos ter uma  mudança de paradigma no controle da hipertensão arterial sistêmica? Vamos primeiro aguardar  a publicação oficial do estudo para podermos fazer uma analise crítica   sobre os resultados encontrados. Sabemos que de um lado da balança há uma industria farmacêutica sedenta por vender remédios e com possível atuação midiática a respeito dos resultados desse trial, que ainda são preliminares. Por hora preferimos ficar com as recomendações atuais vigentes, enquanto aguardamos o resultado final do estudo.


Leitura sugerida:

Press Release: National Institutes of Health. Landmark NIH study shows intensive blood pressure management may save lives. September 11, 2015.

Study Design: Ambrosius WT, Sink KM, Foy CG, et al., on behalf of the SPRINT Study Research Group. The design and rationale of a multicenter clinical trial comparing two strategies for control of systolic blood pressure: the Systolic Blood Pressure Intervention Trial (SPRINT). Clin Trials 2014;11:532-46.


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